terça-feira, 10 de junho de 2014

Sacramento: A Unção dos Enfermos...


"Pela sagrada Unção dos Enfermos e pela oração dos Presbíteros, a Igreja toda entrega os doentes aos cuidados do Senhor sofredor e glorificado, para que os alivie e salve. Exorta os mesmos a que livremente se associem á paixão e á morte de Cristo e contribuam para o bem do povo de Deus".

I. Seus fundamentos na economia da salvação.

A Enfermidade na Vida Humana.

A enfermidade e o sofrimento sempre estiveram entre os problemas mais graves da vida humana. Na doença, o homem experimenta sua impotência, seus limites e sua finitude. Toda doença pode fazer-nos entrever a morte.

A enfermidade pode levar a pessoa á angústia, a fechar-se sobre si mesma e, ás vezes, ao desespero e á revolta contra Deus. Mas também pode tornar a pessoa mais madura, ajudá-la a discernir em sua vida o que não é essencial, para voltar-se àquilo que é essencial. Não raro, a doença provoca uma busca de Deus, um retorno a Ele.


O Enfermo diante de Deus

O homem do Antigo Testamento vive a doença diante de Deus. É diante de Deus que ele faz sua queixa sobre a enfermidade, e é dele. o Senhor da vida e da morte, que implora a cura. A enfermidade se torna caminho de conversão e o perdão de Deus dá início à cura. Israel chega à conclusão de que a doença, de uma forma misteriosa, está ligada ao pecado e ao mal e que a fidelidade a Deus, segundo sua Lei, dá a vida: "Porque eu sou Iahweh, aquele que te restaura" (Ex 15,26). O profeta entrevê que o sofrimento também pode ter um sentido redentor para os pecados dos outros. Finalmente, Isaías anuncia que Deus fará chegar um tempo para Sião em que toda falta será perdoada e toda doença será curada.

Cristo - Médico


A Compaixão de Cristo para com os doentes e suas numerosas curas de enfermos de todo tipo são um sinal evidente de que "Deus visitou o seu povo" e de que o Reino de Deus está bem próximo. Jesus não só tem  poder de curar, mas também de perdoar os pecados: Ele veio curar o homem inteiro, alma e corpo; é o médico de que necessitam os doentes. Sua compaixão para com todos aqueles que sofrem é tão grande que Ele se identifica com eles: "Estive doente e me visitastes" (Mt 25,36). Seu amor de predileção pelos enfermos não cessou, ao longo dos séculos, de despertar a atenção toda especial dos cristãos para com todos os que sofrem no corpo e na alma. Esse amor está na origem dos incansáveis esforços para aliviá-los.

Muitas vezes Jesus pede aos enfermos que creiam. Serve-se de sinais para  curar: saliva e imposição das mãos, lama e ablução. Os doentes procuram tocá-Lo, "porque Dele saía uma força que a todos curava"  (Lc 6,19). Também nos sacramentos Cristo continua a nos "tocar" para nos curar.

Comovido com tantos sofrimentos, Cristo não apenas se deixa tocar pelos doentes, mas assume suas misérias: "Ele levou nossas enfermidades e carregou nossas doenças". Não curou todos os enfermos. Suas curas eram sinais da vinda do Reino de Deus. Anunciavam uma cura mais radical: a vitória sobre o pecado e a morte por sua Páscoa. Na cruz, Cristo tomou sobre si todo o peso do mal e tirou o "pecado do mundo"   (Jo 1,29). A enfermidade não é mais do que uma consequência do pecado. Por sua paixão e morte na cruz, Cristo deu um novo sentido ao sofrimento, que doravante pode configurar-nos com Ele e unir-nos à sua paixão redentora.

"Curai os enfermos..."

Cristo convida seus discípulos a segui-Lo, tomando cada um sua cruz. Seguindo-O, adquirem uma nova visão da doença e dos doentes. Jesus os associa á sua vida pobre e de servidor. Faz com que participem de seu ministério de compaixão e de cura: "Partindo, eles pregavam que todos se arrependessem. E expulsavam muitos demônios e curavam muitos enfermos, ungindo-os com óleo" (Mc 6,12-13).

O Senhor ressuscitado renova este envio ("Em meu nome...eles imporão as mãos sobre os enfermos e estes ficarão curados": Mc 16,17-18) e o confirma por meio dos sinais realizados pela Igreja ao invocar seu nome. Esses sinais manifestam de um modo especial que Jesus é verdadeiramente "Deus que salva".

O Espírito Santo dá a algumas pessoas um carisma especial de cura para manifestar a força da graça do ressuscitado. Todavia, mesmo as orações mais intensas não conseguem obter a cura de todas as doenças. Por isso, S. Paulo deve aprender do Senhor que "basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que minha força manifesta todo o seu poder" (2Cor 12,9), e que os sofrimentos que temos de suportar podem ter como sentido "completar na minha carne o que falta ás tribulações de Cristo por seu corpo, que é a Igreja"  (Cl 1,24).

"Curai os enfermos!" (Mt 10,8). A Igreja recebeu esta missão do Senhor e esforça-se por cumpri-la tanto pelos cuidados aos doentes como pela oração de intercessão com que os acompanha. Ela crê na presença vivificante de Cristo, médico da alma e do corpo. Esta presença age particularmente por intermédio dos sacramentos e, de modo especial, pela Eucaristia, pão que dá a vida eterna a cujo liame com saúde corporal S. Paulo alude.

Entretanto, a Igreja apostólica conhece um rito próprio em favor dos doentes, atestado por S. Tiago: "Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja, para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, estes lhe serão perdoados" (Tg 5,14-15). A Tradição reconheceu neste rito um dos sete sacramentos da Igreja.

Um Sacramento do Enfermos 

A Igreja crê e confessa que existe, entre os sete sacramentos, um sacramento especialmente destinado a reconfortar aqueles que são provados pela enfermidade: a Unção dos Enfermos.

Esta Unção sagrada dos enfermos foi instituída por Cristo nosso Senhor como um sacramento do Novo Testamento, verdadeira e propriamente dito, insinuado por Marcos, mas recomendado aos fiéis e promulgado por Tiago, Apóstolo e irmão do Senhor.

Na tradição litúrgica, tanto no Oriente como no Ocidente, constam desde a Antiguidade testemunhos de unções de enfermos praticadas com óleo bento. No curso dos séculos, a Unção dos Enfermos foi cada vez mais conferida exclusivamente aos agonizantes. Por causa disso, recebeu o nome de "Extrema-Unção". Apesar desta evolução, a liturgia jamais deixou de orar ao Senhor para que o enfermo recobre a saúde, se tal convier á sua salvação.

A constituição apostólica Sacram unctionem infirmorum , de 30 de novembro de 1972, seguindo o Concílio Vaticano II, estabeleceu que doravante, no rito romano, se observe o seguinte:

O Sacramento da Unção dos Enfermos é conferido ás pessoas acometidas de doenças perigosas, ungindo-as na fronte e nas mãos com óleo devidamente consagrado - óleo de oliveira ou outro óleo extraído de plantas - , dizendo uma só vez: "Por esta santa unção e por sua infinita misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que, liberto de teus pecados, Ele te salve e, em sua bondade, alivie teus sofrimentos".

II. Quem recebe e quem administra este sacramento? 

Em caso de doença grave...

A Unção dos Enfermos " não é um sacramento só daqueles que se encontram ás portas da morte. Portanto, tempo oportuno para receber a Unção do Enfermos é certamente o momento em que o fiel começa a correr perigo de morte por motivo de doença, debilitação física ou velhice".

Se um enfermo que recebeu a Unção dos Enfermos recobrar a saúde, pode, em caso de recair em doença grave, receber de novo este sacramento. No decorrer da mesma enfermidade, este sacramento pode ser reiterado se a doença se agravar. Permite-se receber a Unção dos Enfermos antes de uma cirurgia de lato risco. O mesmo vale também para as pessoas de idade avançada, cuja fragilidade se acentua.

"...Que chame os presbíteros da Igreja"

Só os sacerdotes (bispos e presbíteros) são ministros da Unção dos Enfermos. É dever dos pastores instruir os fiéis sobre os benefícios deste sacramento. Que os fiéis incentivem os doentes a chamar o sacerdote, para receber este sacramento. Que os doentes se preparem para recebê-lo com boas disposições, com a ajuda de seu pastor e de toda a comunidade eclesial, que é convidada a cercar de modo especial os doentes com suas orações e atenções fraternas.

III. Como é celebrado este sacramento?

Como todos os sacramentos, a Unção dos Enfermos é uma celebração litúrgica e comunitária, quer tenha o lugar na família, no hospital ou na Igreja, para um só enfermo ou para todo um grupo de enfermos. É de todo conveniente que ela se celebre dentro da Eucaristia, memorial da Páscoa do Senhor. Se as circunstâncias o permitirem, a celebração do sacramento pode ser precedida pelo sacramento da Penitência e seguida pelo sacramento da Eucaristia. Como sacramento da Páscoa de Cristo, a Eucaristia deveria sempre ser o último sacramento da peregrinação terrestre, o "viático" para a "passagem" á vida eterna.

Palavra e sacramento formam um todo inseparável. A Liturgia da Palavra, precedida de um ato penitencial, abrirá a celebração. As palavras de Cristo, o testemunho dos Apóstolos despertam a fé do enfermo e da comunidade para pedir ao Senhor a força de seu Espírito.

A celebração do sacramento compreende principalmente os elementos seguintes: "os presbíteros da Igreja" impõem - em silêncio - as mãos aos doentes; oram sobre eles na da Igreja. É a epiclese própria deste sacramento. Realizem então a unção com óleo consagrado, que, se possível, deve ser feita pelo Bispo.

Essas ações litúrgicas indicam a graça que esse sacramento confere aos enfermos.



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